Entre os dias 10 e 11 de Novembro de 2010, diversos profissionais, pesquisadores e ativistas da saúde e da educação se reuniram no I Seminário Internacional “A Educação Medicalizada: Dislexia, TDAH e outros supostos transtornos”, na cidade de São Paulo.
Nesse evento pessoas de outros estados e cidades, como Bahia, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná, entre muitos outros, estiveram presentes e, juntos, lançamos o manifesto que fundou o Fórum Sobre Medicalização da Educação e da Sociedade.
Desde lá, 4 anos se passaram. Mas nosso tempo não se conta somente pelos anos corridos, nossas lutas e ações acontecem diariamente, em nossos serviços e em nossas ações. O tempo do Fórum é um tempo vivido; crescemos em parceiros e em afetos que garantiram que, apesar das dificuldades, nossa luta é necessária e nossos parceiros são os verdadeiros companheiros indispensáveis nessa caminhada.
“Se eu não posso brincar, não é minha luta!” – é quase com esse espírito que enfrentamos, ao longo desses 4 anos, audiências públicas e projetos de lei que deixavam transparecer uma visão reducionista, quase mecânica do ser humano, e principalmente da infância e do processo de aprendizagem.
Nossa caminhada não se faz sem desafios e dificuldades; afinal, nem sempre a defesa de uma sociedade livre de estigmas e rótulos é fácil. Somos recorrentemente acusados de anticientíficos, de preconceituosos e sobre nós uma avalanche de ofensas vez por outra é despejada. Mas entendemos que o diálogo precisa existir, e a medicalização precisa ser discutida.
Essa discussão acontece em vários espaços. Por exemplo, entre os pesquisadores e profissionais de diversos países que estiveram junto conosco em nossos três Seminários Internacionais. Também nos reunimos em eventos que ocorrem no Brasil todo. Enquanto movimento social, pautamos políticas públicas e o tema da medicalização entra na agenda de considerações de diversos pesquisadores e profissionais da saúde e da educação que agora precisam responder a essa questão: medicalizar por quê?
Aliás, medicalização é um termo que surge em pesquisas de cientistas sociais. Mas o nosso movimento vem se apropriando desse tema de diversas formas, e divulgando o que ele significa nos ambientes acadêmicos, profissionais, políticos e para a população.
Também visitamos o legislativo e executivo alertando para a questão da medicalização, fizemos um Dossiê sobre o tema da medicalização e produzimos cartas, ofícios e notas questionando diversos projetos de leis que ainda persistem em classificar cidadãos como consumidores de tratamentos e terapias de saúde. Passamos a monitorar os projetos de leis e ações que tentam introduzir nas políticas públicas a lógica medicalizante.
Cidades como São Paulo, Campinas e Santos já instituíram o dia 11 de novembro como o Dia Municipal da Luta contra a Medicalização da Educação, fruto da nossa ação política. Nessa data ocupamos parques e praças para conversar com a população e brincar.
Também ocupamos permanentemente o espaço virtual com o site e nossa fanpage do Facebook, com mais de 13 mil curtidas. Divulgamos os nossos eventos e transmitimos tudo o que é possível em nosso canal do Youtube e pela Rede HumanizaSUS.
Crescemos e constituímos núcleos em vários estados, sempre trazendo a diversidade de profissionais que participam do debate.
Os profissionais que trabalham nos serviços de saúde e de educação e os familiares inseridos nesses processos de estigmação são os que mais sofrem com a medicalização. É por isso que lançamos em 2012 as Recomendações de práticas não medicalizantes para profissionais nos serviços de saúde e educação. Com uma apresentação e linguagem rápidas, as Recomendações foram resultado de um trabalho conjunto entre membros do Fórum e profissionais nas pontas dos serviços.
Nesses quatro anos repletos de afetos e vida, percebemos que o Fórum vai se constituindo sem se limitar a um tipo de definição fixa nessa construção de uma luta comum: fórum, grupo, encontro, movimento social, articulação. Nós fazemos parte de um coletivo onde cada um de nós carrega a potência de se diferir. Criar comum implica diferir. O processo de diferenciação para o qual o Fórum se abre é uma direção ética: é abertura, expansão.
Venha participar do nosso coletivo- Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade para trocar experiências, coletivizar lutas, enfrentamentos e estratégias.